Ignacio Vázquez Moliní: As intrigas da Embaixada “Vermelha” em Lisboa

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A tradução para português da obra A Embaixada Vermelha em Lisboa de Ignacio Vázquez Moliní, escritor e diplomático espanhol, foi apresentada a 11 de maio, num evento organizado pela Embaixada do México em Portugal, Instituto Cervantes de Lisboa, Grémio Literário e Âncora Editora, que teve lugar Grémio Literário.

O romance que relata as intrigas e adversidades que enfrentou a delegação mexicana em Lisboa em meados dos anos trinta, em plena guerra civil espanhola, para ajudar centenas de exilados que encontraram refúgio no México, foi apresentado pelo Embaixador do México em Portugal, Alfredo Pérez Bravo, e pelo Diretor do Instituto Cervantes, Javier Rioyo Jambrina.

A Casa da América Latina entrevistou o autor.

Como surgiu a ideia de escrever este livro?

A ideia de escrever este livro surgiu pela fascinação pessoal que desde sempre tive pelo México e pela sua história. Já na altura do meu doutoramento, estudei a visão da Revolução Mexicana na imprensa de Lisboa, assim como as atividades diplomáticas mexicanas em Portugal nos anos trinta e quarenta do século passado, bem como o descobrimento das funções diplomáticas exercidas, num contexto hostil, nomeadamente pelo Ministro (equivalente a Embaixador) em Lisboa, Daniel Cosío Villegas.

Que tipo de documentos e testemunhos recolheu para compor uma série de relatos relacionados à embaixada mexicana em Lisboa?

Os documentos, para além dos relativos aos meus estudos específicos no campo da Filologia Hispânica, foram os publicados pela imprensa portuguesa da época, nomeadamente do Diário de Notícias, na Hemeroteca Nacional, os arquivos diplomáticos portugueses e mexicanos e muitos testemunhos pessoais de gente que conheceu diretamente aqueles tempos convulsos.

Qual o impacto da ditadura portuguesa nos factos relatados neste romance?

A Guerra Civil espanhola é um eixo central do meu livro. O papel de Salazar foi fundamental para garantir uma neutralidade abertamente favorável ao general Franco, mas, ao mesmo tempo, mantendo sempre uma porta aberta caso as potências democráticas europeias, nomeadamente o Reino Unido, mudassem se parecer. Lembremos, por exemplo, que se é verdade que o material de guerra da Alemanha e Itália chegava às tropas nacionais via Portugal, também é certo que, praticamente até o fim da República Espanhola, o cauto Salazar manteve contactos informais com o governo legítimo da Espanha, autorizando, por exemplo, a saída de barcos de refugiados com destino a Tarragona.

Pode contar-nos um pouco da história de A Embaixada Vermelha em Lisboa? Porquê este nome?

É a história ficcionada de um período fascinante para Portugal e para toda a Europa. Com a expulsão, em setembro de 1936, do embaixador da República Espanhola em Portugal, o historiador Claudio Sánchez Albornoz, e a chegada do irmão de Franco como novo embaixador em Lisboa, conforme os acordos internacionais entre o México e a Espanha. A legação diplomática mexicana assume a representação da República em Portugal. Naquela altura o México vivia os tempos da Revolução, liderado pelo general Lázaro Cárdenas. Salazar aproveitou esta circunstância para jogar em várias frentes, mantendo abertos os canais de comunicação com as potências democráticas e também com os revolucionários mexicanos. É uma história de grandes intrigas políticas, espiões, refugiados e amores difíceis, juntando personagens reais, como Almada Negreiros, Amália, Gabriela Mistral (cônsul do Chile e prémio Nobel de Literatura), com outros que, sendo personagens literárias, deveriam ser até mais reais do que os primeiros. Tal é o caso do cronista Pereira, homenagem ao grande António Tabucchi, ou de um grande Chefe do Protocolo do estado, chamado José de Almeida, que desempenham papéis fundamentais nesta história.

O nome da Embaixada Vermelha (naturalmente era impossível uma embaixada Soviética em Lisboa) resulta do nome oficioso que o próprio Salazar utilizava para se referir aos diplomatas espanhóis e mexicanos. Este nome torna-se especialmente triste quando se sabe que Sánchez Albornoz foi um grande intelectual, católico praticante, e Cosío Villegas um homem marcadamente liberal.

Qual a importância desta apresentação no Grémio Literário?

O fato de apresentar este livro no Grémio Literário é especialmente relevante, já que o romance começa neste clube histórico de Lisboa e muitas das cenas decorrem nas suas instalações, desde o bar, com um barman perito em cocktails (como o inventado porto-fizz), o seu restaurante no terraço, os encontros no seu delicioso jardim e até os quartos discretos onde os consócios do Grémio daquela altura se retiram para “descansar”. Alguns leitores têm assinalado que a identificação de bastantes lugares lisboetas neste romance, desde restaurantes a locais noturnos, bem como a descrição de muitas ruas e lugares da cidade, quase lhe confere um carácter de guia de Lisboa.

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