Germán Ríos: “Não devemos subestimar os mercados mais pequenos, que têm um grande potencial”

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[Testemunho do Diretor Corporativo de Assuntos Estratégicos do Banco de Desarrollo da América Latina (CAF), Germán Ríos, na conferência “Financiamento por Multilaterais de Projetos na América Latina”, realizada na Casa da América Latina em abril]

“Há uma palavra portuguesa que me agrada muito que é: “parcerias”, e que neste mundo de desenvolvimento multilateral é uma palavra-chave. Uma parceria muito importante que temos é a da CAF com a SOFID, e gostaríamos muito de estender a mesma a outras instituições portuguesas. Obviamente, com o BID – instituição com a qual dizemos que não competimos, mas cooperamos – temos também muitas parcerias importantes de financiamento na América Latina. O Desenvolvimento é um tema muito complexo. Há projetos de desenvolvimento que requerem muito conhecimento e imaginação (sobretudo financeira). É por esta razão que as parcerias são chave – porque é preciso ter muita gente reunida em volta de uma mesa para poderem surgir ideias inovadoras para levar a cabo um projeto, que em alguns casos envolve contextos inéditos de atuação.

Falando um pouco sobre quais são as oportunidades que se avistam na América Latina: porque é que acreditamos que Portugal tem, não só de ter a América Latina no seu mapa (e já tem de certa forma), mas também expandir a sua visão sobre as oportunidades que esta região lhe dá?

O que vemos neste gráfico é que, obviamente, não apenas a América Latina, mas também Portugal, se encontram numa conjuntura global muito difícil, que engloba uma série de elementos, começando pela presidência de Trump nos Estados Unidos e a possível posição protecionista que vai ter, passando pela mudança de modelo de desenvolvimento da China, que tem um impacto importante sobre a América Latina, porque a maior parte dos nossos produtos são matérias-primas e comodities, e, com a adaptação deste país para um modo mais doméstico de investir. Existem outros fatores, como o que se passa entre o Banco Central Europeu e a Reserva Federal, virados um para cada lado, que origina os problemas de desaceleração das economias e a lenta recuperação, por exemplo nos países da Europa, que esperávamos que já tivessem superado a crise.

Todos estes elementos fazem com que a situação da América Latina seja especialmente complexa. Para dar um exemplo, nos anos em que a economia desta região crescia mais, que foi na primeira parte dos anos 2000, era fácil crescer, porque tínhamos a China a crescer a 10%, tínhamos taxas de interesses muito baixas nos Estados Unidos, o que favorecia a entrada de capitais, e a verdade é que não era necessário ser um génio da macroeconomia para crescer nestas circunstâncias. Agora, quando começamos a desacelerar o crescimento na segunda parte dos anos 2000, criou-se a combinação exatamente oposta – a China a crescer menos (6%), e as taxas de interesse a subir que nos colocam dificuldades no que toca ao fluxo de capitais. Quero destacar que o ano passado foi especialmente mau para a América Latina, porque pela primeira vez desde a crise de Lehman Brothers tivemos uma desaceleração, mas a boa notícia vamos começar a crescer novamente a partir do ano 2017.

Quando se fala na América Latina, é muito difícil generalizar, porque cada país e região é um mundo, são muito diferentes, e eu quero demonstrar isso. Metade da América Latina, que é 54% do Produto Interno Bruto (PIB), representada por Argentina, Brasil, Equador e Venezuela, o ano passado não correu muito bem a estes países. Mas se olharmos para a outra metade – Colômbia, Chile, Peru, México e América Central, neste países foram mantidas as taxas e crescimento, e que inclusive, recebendo o mesmo choque externo que o resto da região.

Assim, a minha mensagem para os empresários portugueses é que é necessário ver com cuidado e não generalizar, porque nem toda a América Latina está a decrescer. O Brasil representa 40% do PIB, e existem muitas oportunidades de investimento no Brasil, mas não quer dizer que não existam oportunidades importantes noutros mercados. Não devemos subestimar mercados menores, que têm um grande potencial. Refiro-me a países como a Bolívia, Paraguai, Uruguai, Cuba – uma série de países que normalmente não colocamos no mapa, porque pensamos primeiro no Brasil, na Argentina, México, mas são países que têm oportunidades interessantes e é preciso saber encontrá-las.

Este balanço vai mudar um pouco no ano que vem, porque passamos ao lado positivo o Brasil e a Argentina, que ainda não saíram das crises, mas agora mais de 90% do PIB regional vai estar em crescimento. Quanto a países como o Equador e Venezuela, podemos contar que em algum momento vão também melhorar as suas economias. Em conclusão, acredito que se aproximam bons tempos para a região, num momento que é conturbado, mas que traz consigo boas oportunidades de negócio para empresas portuguesas e do resto do mundo.

Os desafios que a América Latina enfrenta são oportunidades para as empresas estrangeiras, pois em muitos casos estes países necessitam de ajuda, conhecimento, tecnologia, capital humano e sobretudo dinheiro para investir em projetos que são importantes. E, neste sentido, oferecem uma série de vantagens aos investidores. Uma que é relevante e relativamente recente é a grande quantidade de pessoas dispostas a comprar, devido ao crescimento da classe média nestes países. Temos ainda uma grande reserva de recursos naturais e matérias-primas. Temos empresas que se estão a dar a conhecer como Multilatinas, desde o setor primário às novas tecnologias, que vão ter um grande papel, pois começaram a expandir-se para a Europa. Outro dos fatores atrativos é a existência em todos os países da região de um plano agressivo de investimentos em infraestrutura.”

Planos de investimento em infraestrutura na América Latina:

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