Laura Ayerza de Castilho: “Os acessórios não têm idade”

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A artista argentina Laura Ayerza de Castilho apresentou, na sua segunda exposição em Lisboa, as diferentes coleções da marca de joalharia f&l, no evento “Entre os pés e as mãos”, que decorreu na Casa da América Latina, nos dias 8 e 9 de fevereiro, em conjunto com a Casa ELEH.

Com inspirações provenientes de África e da América Latina, Laura Ayerza apresenta peças concebidas em materiais nobres ou reciclados e objetos antigos, que refletem a sua criatividade e interesse pela holística.

Trabalhou durante anos no Ministério das Relações Exteriores da Argentina, foi jornalista em Londres… Como começou a paixão pelas joias?

Esta paixão começou no Brasil, quando para lá me mudei. Comecei a fazer bijuteria quando tinha já deixado de escrever, e passei posteriormente para a joalharia. Como viajava constantemente, quando vinha a Portugal trabalhava com a Isabel Melo, no Brasil tinha aulas com a Paula Mourao, e na Argentina tinha também um atelier, e assim fui aprendendo. Comecei a fazer apresentações na Argentina e, agora que já passaram alguns anos, e estou a morar em Portugal e a exibir neste evento a convite da Casa da América Latina.

Que tipo de materiais utiliza na execução das suas peças?

Mais do que bijuterias, estas são joias contemporâneas. Eu compro os meus materiais em todas as viagens que eu faço, à medida que as vou encontrando. Muitas delas são peças antigas e, a partir delas, vou concebendo as ideias. Depois tenho muitas amigas que me oferecem peças antigas para que eu as transforme em peças contemporâneas. Adoro fazer recycling. Adoro reutilizar peças velhas. Por exemplo, tenho a linha de peças “Tiempo” que é feita com relógios que encontrei no mercado e que transformei em colares. Também uso muitas pedras preciosas e semi-preciosas que compro também durante as minhas viagens.

Quais as suas principais inspirações e temas?

Posso destacar, por exemplo, a “Mar e Tierra” que é composta sobretudo por colares com corais que encontrei no Brasil. A “África” provém dos motivos africanos que me inspiraram em viagem, e as peças são feitas maioritariamente de ébano e osso. Depois tenho uma linha loca, que se chama “Fun”, com muita cor, corações feitos em osso brasileiro, e pedras com significado holístico. Uso o ambar, que é protetor, o coral para o coração, e tenho vindo a usar o larimar, que é uma pedra que só se encontra na República Dominicana, sendo protetora por excelência. Fascina-me toda esta parte holística das peças de joalharia.

Tem alguma coleção que lhe seja mais próxima?

A mais pessoal talvez seja a de África. Gosto de coisas grandes. Hoje em dias as joias são muito fininhas. Eu não o faço, e não gosto. Faço coisas tão grandes que por vezes assusta as pessoas, mas eu gosto e são as minhas preferidas.

Mas, no caso da coleção “Laura”, as peças têm alguma subtileza…

A minha última coleção, “Laura”, simboliza os labirintos da vida. Por vezes faço uma coisa e, ao sair um erro, digo “não, isto não ficou bem, não teve o resultado esperado, vou fazer outra coisa”. Mas, neste caso, todo o conceito de “Laura” veio do resultado de um outro conceito que queria explorar. Saiu esta espécie de labirintos, que identifiquei como sendo os labirintos da nossa vida. As entradas e as saídas que temos em todas as situações. Partiu de um erro, mas teve imenso sucesso [risos].

Acha que existe uma idade para quem usa estas joias, ou para alguma coleção específica?

Não. Penso que as podem usar mulheres dos 20 aos 80 anos. As coleções não estão de forma alguma orientadas para um público mais jovem ou mais velho. Para mim, a mulher, e sobretudo os assessórios, não têm idade. Eu, por exemplo, visto-me sempre de uma maneira muito simples, neat, de preto, branco, beje… porque acredito que os assessórios fazem tudo e que não têm idade.

Já fez peças personalizadas? Gosta de trabalhar dessa forma?

Sim, já fiz, mas eu prefiro trabalhar a partir da criatividade. As amigas encomendam-me algumas coisas, mas tendo a preferir criar, e o mesmo se aplica aos arranjos. Acho muito chato [risos].

Que recetividade tem sentido em Portugal relativamente a estas peças?

Para já ainda não vendi em Portugal, é uma coisa que faço mais para o meu círculo de amizades. Não faço ideia de como o público em geral vai reagir. O meu marido, que é português, é uma parte importante neste processo, porque é uma pessoa muito estética, e eu faço questão de consultar as suas opiniões plásticas.

As suas peças figuraram numa capa da Harper’s Bazaar na Argentina. Este é um caminho pelo qual gostaria de enveredar? Talvez associando-se também à moda?

Eu trabalhei durante muitos anos em imprensa e tenho muitas amigas que me pedem para fazer produções de moda, e, neste caso, por coincidência, saiu na capa, mas adoraria trabalhar nesse meio. Tenho uma sobrinha designer na Argentina para quem também faço algumas coisas.

É uma das perspetivas para o futuro?

Na verdade, o que gostava realmente era exibir as joias no máximo de países do mundo. Esse é o meu único objetivo. Não tenho algo tão demarcado sobre o que quero fazer. O que quero é sair, que o vejam e gostem. Nos Estados Unidos já me pediram uma exposição, por exemplo, e enfim, vamos ver como resulta. Mas o que gosto mesmo é de fazer. Basta olhar para a quantidade de coisas que tenho expostas. E é uma autêntica terapia. Enquanto estou a criar esqueço do mundo e as horas passam. A parte comercial é o que menos interessa. É importante, mas o essencial é que o trabalho continue a ser enriquecedor.

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