Estreia Teatral na Capital Ibero-americana da Cultura 2017

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A programação teatral da Capital Ibero-americana da Cultura 2017 teve estreia no Teatro Maria Matos, com a peça “Arde Brilhante nos Bosques da Noite” do argentino Mariano Pensotti, a 21 e 22 de janeiro.

A trama começa por seguir Estela, uma professora universitária que tenta ensinar aos seus alunos o papel das mulheres na Revolução Russa através da figura da revolucionária soviética e feminista Alexandra Kollontai. A protagonista fala do corpo como território de subjugação e de controlo, mas a própria filha deixa-se explorar em reallity shows, em que o papel da mulher é de mero objeto de entretenimento.

Apesar da sua orientação ideológica, Estela é uma mulher com necessidades físicas e emocionais, que se vê traída pelo marido, rendida a um súbito interesse pelo porteiro da universidade em que leciona, incapaz de convencer a sua filha a valorizar a sua luta.

O autor argentino Mariano Pensotti propõe-nos questionar o papel da Revolução Russa na América Latina atual, colocando o feminismo no mesmo patamar da luta de classes, e fá-lo a partir de uma história tripartida, em que os suportes vão também sofrendo metamorfoses. O que começa por ser um espetáculo de marionetas que imitam os personagens que as controlam, passa a ser uma peça dentro de uma peça, com nova narrativa, mas similar problemática.

A nova personagem principal, Sonja, vista como heroína ao serviço da guerrilha na Colômbia, regressa a casa, um bairro operário alemão, e depara-se com um quotidiano superficial, em que a sua irmã mais nova é a estrela de um musical que fantasia as suas próprias aventuras e privações na América Latina.

Uma nova transformação no cenário e na trama leva os personagens ao cinema, que assistem em conjunto com o público um filme sobre Cláudia, uma apresentadora de televisão que se vê na difícil situação de disputar uma promoção com o namorado oportunista. Na sua busca encarar o corpo como janela de oportunidades, encontra novas limitações, que evidenciam o desafio de ser mulher em 2017.

O final aproxima-se com o dissolver de todas as representações numa só, que inevitavelmente se volta para o próprio espetador, ator na sociedade atual e espelho de todas estas influências.

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