Luis Morlote Rivas: “Procurar a partilha de interesses e saberes comuns”

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O vice-presidente da União de Escritores e Artistas de Cuba (UNEAC), Luis Morlote Rivas, esteve em Lisboa e reuniu com Manuela Júdice, secretária-geral da CAL, para identificar possíveis parcerias no que toca à promoção da cultura cubana.

Fundada pelo poeta Nicolás Guillén, a UNEAC tem por objetivo preservar o projeto de justiça social e independência nacional nos quais várias gerações de cubanos se têm vindo a empenhar. Por esta organização representada por artistas de reconhecido prestígio em todos os âmbitos das artes estéticas e filosóficas, passaram figuras como Alejo Carpentier, José Lezama Lima e René Portocarrero.

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Na ocasião falámos com Luis Rivas.

Como nasceu a UNEAC e qual é a sua missão?

A UNEAC é uma organização que nasceu no ano 1961, como resultado do primeiro Congresso de Escritores e Artistas após o triunfo da Revolução Cubana em 1959. É uma organização que se pensou como um espaço de participação e de diálogo entre os intelectuais em todas as manifestações culturais. Assim, esta união resulta da junção de cinco associações, cada uma delas relacionada diretamente com uma especialidade da criação (Artes plásticas, Música, Literatura, Artes cénicas e Audiovisual). De maneira conjunta realizamos a cada cinco anos um congresso, onde cada um destes comités ou associações expõem as suas preocupações e definem um plano de trabalho.

Que temas estão atualmente a ser debatidos em Cuba, que afetam os artistas e escritores?

Por exemplo, no campo da Música, um dos principais debates que têm surgido em Cuba tem a ver com a forma de resgatar a música tradicional cubana, que hoje se consome e difunde menos. Há uma discussão por parte dos artistas sobre como defender os direitos de autor, quando se quer difundir sem ter a autorização do autor da obra. Discute-se também o tema da educação artística gratuita no ensino básico, secundário e universitário como especialidade, ou as problemáticas de uma nova linguagem das artes digitais, que em Cuba é de integração custosa devido à carência que temos tido em termos tecnológicos. O próprio comité de artistas plásticos tem trabalhado muito o tema do mercado nesta vertente.

No caso da Literatura tivemos um debate no comité de escritores sobre a difusão da obra literária, sobre o tema da biblioteca e sobre a promoção da Literatura. No caso das Artes cénicas, existe um teatro muito revolucionário e renovador, na cena cubana, e hoje debate-se muito a estética do teatro cubano e suas particularidades, bem como a formação de diretores e dramaturgos. Temos uma nova geração de dramaturgos jovens que estão a trabalhar uma temática muito ligada à vida quotidiana cubana.

No campo Audiovisual debate-se também fomento do cinema nacional e a preparação do espetador para a Cultura – como formar expetadores cultos. Para além disso, existe a preocupação constante de democratizar a Arte, dando acesso a todos. Os preços para ir a espaços culturais, teatros ou cinemas são baixos, estando subvencionados pelo Estado. Há um estímulo que tem sido muito importante.

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Existe a intenção por parte da UNEAC de interagir também com outras geografias?

A UNEAC é composta por artistas cubanos, na sua maioria, que estão a residir dentro e fora de Cuba. O objetivo da união é promover a Arte que fazem os cubanos, mas esta missão não estaria tão completa se não promovesse também a Arte universal, porque é esse diálogo que leva ao crescimento dos próprios artistas. Assim, temos o apoio de outras associações diretamente relacionadas com a promoção da Arte latinomericana, caribenha e universal, como é o caso da Casa da América e de outras que têm um perfil mais alargado.

A UNEAC criou ainda uma série de prémios internacionais que lhe permitem contactar com a latinoamérica em geral. Por exemplo, no caso da música: o bolero não é apenas popular em Cuba, mas também no México, na Costa Rica, em Porto Rico… Os prémios internacionais são também um pretexto para que artistas muito importantes visitem Cuba, dialoguem com os artistas nacionais, e criem um espaço de reflexão e debate em torno da criação contemporânea.

O que o traz à CAL e que tipo de parcerias procura estabelecer com organizações desta natureza?

A CAL é a expressão daquilo que Cuba tem vindo a defender na área da Cultura, que é reforçar os valores daquilo que é mais autêntico na nossa região. Pelo que conheci nesta visita e no que pude apreciar durante a Mostra de Cinema da América Latina, a CAL é indiscutivelmente um espaço de conhecimento privilegiado da nossa cultura, um espaço de integração – fator que é muito importante num momento em que o grande consórcio de comunicação mundial não está interessado em abordar a nossa identidade cultural. A integração das representações de diversidade de um continente tão vasto, é para nós uma premissa essencial. A CAL pode ser um interlocutor entre organizações como a UNEAC e outras organizações no sistema institucional cubano, sendo importante apostar mais na colaboração, nos intercâmbios de informação e conhecimento científico, cultural ou educativo. Temos de buscar esta partilha de interesses e saberes comuns. A Cultura é uma expressão que humaniza o ser humano e que expõe o melhor que este tem para oferecer.

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