Influência feminina na cultura paraguaia em debate na FLUL

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A Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) organizou no dia 10 de maio a conferência “La mujer en la construcción de la cultura paraguaya” da poeta, diplomata, professora universitária e crítica literária Lourdes Espínola.

O evento promovido pela Embaixada do Paraguai em Portugal contou ainda com a leitura de vários poemas da mais recente antologia de poemas de Lourdes Espínola, “As Núpcias Silenciosas”, selecionada e traduzida por Albano Martins e com edição da Glaciar.

Começando por contextualizar a situação da emancipação feminina no Paraguai, a escritora explicou que “as ditaduras trazem uma marca no pensamento coletivo dos povos”, que afeta o desenvolvimento social da mulher por oposição ao doméstico. Lourdes Espínola dá o exemplo da literatura, em que “era reservado às mulheres o campo da poesia do «amor sublimado», em que predominava a estética patriarcal”.

Hoje, e de forma crescente desde o fim da ditadura, “a mulher deixa de ser o depositário do desejo masculino para falar de si mesma”, avança a autora, lamentando, no entanto, que seja por vezes mais fácil mudar as leis do que as mentalidades, num país onde “a família é tradicionalmente encabeçada pela mulher”.

Com o aumento da produção literária feminina, os temas afastam-se do lado mais “doméstico” para abordar tópicos próprios do universo da mulher (a maternidade, por exemplo) de um ponto de vista estético que traça “um espaço próprio na literatura”, que se refletiu na criação das Escritoras Paraguaias Associadas (EPA), entidade da qual é presidente.

“A mulher passa a ser um agente de mudança do destino do país e do seu próprio destino, e já não podem ser ignoradas as suas contribuições de tanto peso na literatura e na política. A mulher tem agora um poder definido no Paraguai”, afirma Lourdes Espínola.

Relativamente à sua relação com a literatura portuguesa, a escritora identifica-se com Maria Teresa Horta, que se situa “numa outra corrente da poesia feminista”. “As vozes feministas surgem em vários momentos, entrando por vezes em sintonia por partirem de inquietudes semelhantes”, acrescenta.

Lourdes Espínola

Diretora-geral de Relações Internacionais no ministério da Educação do Paraguai e Secretária-geral da UNESCO no Paraguai, é atualmente catedrática da Universidade del Norte no mesmo país. Membro ativo no mundo cultural norte-americano entre 1975 e 1985, foi convidade em 1977 pelo governo dos Estados Unidos da América a representar o Paraguai no prestigiado International Writer’s Program da Universidade de Iowa.

Dos 12 livros da sua autoria editados até hoje, destacam-se “Womanhood and Other Misfortunes” (Ser Mulher e Outras Desventuras), “Tímpano y Silencio”, “La Estrategia del Caracol”, “Encre de Femme”, “Les mots du Corp” (As Palavras do Corpo) e “Desnuda en la Palabra”. A sua obra foi traduzida para várias línguas e publicada em França, Itália, Alemanha, EUA, Venezuela, México, Argentina, Espanha, entre outros.

Os seus temas refletem a situação da mulher, na sua relação com o corpo e a condição amorosa. Os seus contos e ensaios literários abordam ainda aspetos sociais, os direitos humanos e a liberdade. Entre os prémios literários que lhe foram atribuídos contam-se o primeiro prémio Sigma Delta Pi (EUA), o primeiro prémio do Concurso Literário Internacional Santiago Vilas (EUA) e o primeiro prémio La Porte des Poètes (França).

Lourdes Espínola é filha de Elsa Wiezell, poeta e professora de literatura paraguaia, fundadora do Museu de Arte Moderna, do periódico “El Feminista” e da Escola de Belas Artes, instituição que dirigiu durante 12 anos durante a ditadura.

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