Fretes Carreras: “O Paraguai é um país estável”

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A Casa da América Latina conversou com Luis Fretes Carreras, Embaixador do Paraguai em Portugal, à margem da celebração do Dia Internacional da Amizade, uma iniciativa que teve lugar em Lisboa. Fretes Carreras abordou vários temas relacionados com a economia do seu país, mas falou também da aposta cultural da Embaixada e da sua ligação estreita com a Casa da América Latina.

O Paraguai é actualmente um dos países latino-americanos com maior crescimento económico…

Sim, juntamente com o Peru e o Panamá. Também é um dos países com melhor clima de negócios e temos semelhanças culturais.

O que o torna um dos países mais atractivos para investimento externo. Entende que há potencial para um maior estreitamento de laços económicos entre Portugal e o Paraguai?

Com certeza. As relações entre Portugal e o Paraguai, nos últimos quatro anos, adquiriram uma dimensão desconhecida até agora. O vínculo foi quase sempre muito formal, sobretudo na área das relações institucionais, para além de um ou outro investimento português desenvolvido há já muitos anos. O mercado paraguaio não é grande como o da Colômbia, o dos Estados Unidos ou o do Brasil. O Paraguai tem uma dimensão média, óptima para as empresas e os investidores de dimensão semelhante. Isto faz com que o Paraguai seja um país atractivo para o desenvolvimento de relações de negócios com as pequenas e médias empresas. Para além disto, há uma questão importante: o Paraguai é o primeiro país no mundo produtor de energia limpa renovável e tem um excedente astronómico, de 70% da sua produção. Nisso é caso único na História. O potencial é enorme para o desenvolvimento das indústrias e dos serviços associados ao consumo de energia eléctrica.

O Paraguai tem ainda grandes necessidades de investimentos básicos, como saneamento e construção civil. Portugal pode ser importante como parceiro de negócios nessas áreas?

É verdade, o Paraguai é um país que tem mudado muito no campo urbanístico. Nos últimos 30 anos a migração interna foi muito forte, das zonas rurais para as urbanas. Algumas cidades passaram, nestes últimos anos, a ser verdadeiras metrópoles. Historicamente o Paraguai nunca teve várias cidades com mais de 300 mil habitantes, e hoje provavelmente tem mais de seis. Há, por isso, uma necessidade de melhorar as condições de saneamento básico, e ao mesmo tempo de prestação de serviços dos sistemas de saúde, de transporte… Mas o Paraguai é um país que atravessa um período de grande crescimento económico, pelo que precisa de maior investimento para abarcar todas as áreas, dos serviços sociais às infra-estruturas. Recentemente o Parlamento mudou a legislação, permitindo o estabelecimento de parcerias público-privadas para o desenvolvimento de obras públicas. A legislação inclui também um sistema de incentivos fiscais interessantes, estando projectado para os próximos anos um regime fiscal baseado na ideia do triplo-10: 10% de IVA, 10% de IRS e 10% de IRC.

O Ministro da Indústria e Comércio do Paraguai, que visitou Lisboa recentemente, referiu que uma das principais medidas do Presidente Horacio Cartes foi abrir concursos públicos no Paraguai a empresas estrangeiras. A realidade é exactamente assim?

Sim. Há uma política pública, hoje em dia, impulsionada pelo Presidente, para procurar o estabelecimento no Paraguai de empresários estrangeiros. Procuramos investimentos de qualidade, que possam ser complementares com a disponibilidade do país. Temos um excedente de energia eléctrica e somos também um grande produtor agrícola, um dos principais produtores mundiais de soja e de milho, e agora estamos a trabalhar muito para sermos um dos grandes produtores mundiais de arroz. Além disso, somos também um dos grandes produtores de carne bovina e poderemos vir a ser também um dos grandes produtores de frango, de carne de ovelha e porco. O desenvolvimento cada vez maior do Paraguai requer uma base atractiva, um sistema jurídico e uma economia estáveis. O Paraguai é um país estável.

A questão de um sistema jurídico estável e atractivo para o investimento é importante. É previsível que futuros governos paraguaios mantenham este rumo?

O Paraguai é um dos poucos países da América do Sul que mantêm a mesma moeda há mais de 50 anos. É também um dos países com moeda mais estável, sem grandes flutuações, para além de o nível de endividamento público do país ser inferior a 15%. Isto significa que temos uma forma de gestão pública responsável e com visão, utilizando os recursos de que o país dispõe.

Relativamente à Embaixada do Paraguai em Portugal, quer salientar actividades que vem desenvolvendo ou virá a desenvolver no futuro próximo?

Acho importante destacar que a comunidade paraguaia é pequena mas muito dinâmica. Este evento que estamos a desenvolver agora é uma prova de união, porque o que queremos é dar a conhecer a nossa cultura respeitando a cultura portuguesa. Além disso, a Embaixada vem desenvolvendo actividades de promoção cultural, a única forma de promover o conhecimento mútuo. Por isso trouxemos a Lisboa a pianista Chiara D’Odorico e um dos grandes artistas de harpa do Paraguai, Ismael Ledesma. Até ao final do ano contamos colaborar para o desenvolvimento da Mostra de Cinema da América Latina, bem como da Mostra Latino-Americana de Teatro, iniciativas promovidas pela Casa da América Latina. A Embaixada do Paraguai é pequena mas muito activa, não só junto da sua comunidade mas também no contacto com a portuguesa. A nossa intenção é fomentar o conhecimento mútuo, numa condição de igualdade e de respeito.

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